Ética e Indiferença
Alô turmas!
Leiam atentamente o texto abaixo
E respondam as questões propostas.
Um abraço! Prof Caetano.
Treinados para a indiferença
Se
nos tempos de Hitler houvesse televisão em cadeia mundial, ele não teria
conseguido manter por tanto tempo campos de concentração, nem fazer o gueto de
Varsóvia. A opinião pública teria apoiado a guerra contra o nazismo desde o seu
início. A falta da televisão atrasou o enorme esforço feito para barrar o
avanço do totalitarismo. Hoje, o mundo assiste indiferente aos horrores em
escala global. Porque vivemos um tempo de indiferença.
No
Oriente Médio, há anos assistimos pela televisão ao momento quase exato em que
jovens palestinos se suicidam assassinando jovens israelenses e em que soldados
israelenses se embrutecem matando jovens palestinos. Cada qual dizendo defender
sua própria terra, eles sacrificam e se sacrificam, diante da indiferença do
mundo. Porque o mundo vem treinando há décadas para ficar indiferente.
O
terror deve ser interrompido não apenas em defesa da vida de suas vítimas, mas
em defesa também dos próprios jovens que se suicidam matando; a brutalidade dos
soldados deve também ser interrompida, não apenas em defesa de suas vítimas,
mas também dos próprios soldados, que ficarão para sempre embrutecidos pela
ação violenta que hoje praticam.
Mas,
o mundo assiste ao martírio dos inocentes cujo único erro foi estar em um café
no momento em que ali explode uma bomba que eles não esperavam, ou o martírio
do terrorista que deliberadamente explode a bomba em seu próprio corpo; ou do
jovem palestino vítima de um tiro do soldado israelense; ou o sofrimento do
próprio soldado com o corpo protegido dentro de um tanque monumental, mas o
espírito vitimado pelas maldades que lhe mandaram executar.
Vivemos
um mundo onde todos são vítimas, sem uma indignação que faça parar a tragédia.
E assistimos em cadeia nacional às explosões, aos tiros, às mortes, porque
fomos treinados para isso.
Há
décadas, assistimos às imagens de crianças morrendo de fome, em um mundo com
excedente de alimentos; assistimos a milhões morrendo de Aids, quando a ciência
já oferece coquetéis salvadores; vemos crianças trabalhando, adultos
desempregados, famílias sem atendimento médico, tudo diante da indiferença. Um
mundo que tem quase US$ 40 trilhões de renda mundial concentrada em poucos
países obriga os povos pobres a pagarem US$ 300 bilhões por ano de serviço da
dívida, quando apenas 0,1% da renda total seria suficiente para abolir o
trabalho infantil, levando 250 milhões de crianças para a escola. Tudo isso
diante da indiferença dos governos, dos organismos internacionais e da opinião
pública.
Diferentemente
da inocente população nos tempos do nazismo, que não sabia o que acontecia, a
população mundial de hoje não pode dizer que desconhece a realidade. Ela
assiste à tragédia em cadeia mundial de televisão.
Há
cinqüenta anos, as fotos em branco e preto dos campos de concentração nazistas
horrorizaram o mundo, quando publicadas em revistas, anos depois de terem
acontecido. Hoje, assistimos ao vivo e em cores, pela televisão, a cenas ainda
mais dramáticas de campos de concentração da modernidade, sem cercas, nem
guardas, sem totalitarismo, nas estepes africanas ou na periferia das grandes
cidades de qualquer país. E pouco se vê de horror ou indignação.
Os
filmes sobre o gueto de Varsóvia nos chocam até hoje, mas não nos chocam as
cenas reais transmitidas pela televisão dos modernos guetos que são as favelas
dos pobres excluídos, não importa a cidade do mundo onde estejam. Porque,
banalizando a tragédia, treinamos para a indiferença e endurecemos nossos
corações.
A
modernidade da globalização espalhou pelo mundo campos de concentração e
guetos, sem preconceitos étnicos, sem opção política, sem necessidade de
totalitarismo, acobertados pela indiferença que domina nossos tempos.
Dentro
de décadas, quando escreverem a História de nosso tempo, não será o avanço
técnico nem a riqueza que definirão nossa era. Também não poderá ser a pobreza,
porque ela é apenas uma parte da nossa realidade. Os historiadores terão de
encontrar uma expressão que indique ao mesmo tempo a riqueza e a pobreza, a
democracia e os campos de concentração da modernidade, o avanço técnico e os
guetos modernos. O nome mais apropriado para nossa era será: tempo de
indiferença.
Hoje,
vivemos na indiferença diante de todas as formas de perversão que caracterizam
a sociedade moderna, na sua extrema riqueza e extrema pobreza, na sua
possibilidade de paz e sua realidade de guerra, no seu excedente e sua
escassez. Um tempo de indiferença diante dos destinos de crianças que
trabalham, de adultos que não têm trabalho, de famílias sem terra, sem teto, sem
esperança.
Se
nos olhassem desde onde estão, os habitantes dos anos 30 e 40 teriam vergonha
da nossa desumanidade. Porque eles não foram treinados para a indiferença, como
nós estamos sendo, diariamente, a cada dia, diante da televisão que nos mostra os
horrores que, de tão vistos, deixam de incomodar.
Cristovam Buarque. Rio, 8 de Abril de 2002
01 – Você concorda ou discorda do autor quanto à indiferença moderna? Por quê?
02 – Qual a influência dos meios de
comunicação em relação à indiferença e passividade das pessoas?
03 – A situação hoje está pior ou melhor que na época de Hitler? Por quê?
04 – Por que as pessoas mais antigas
sentiriam vergonha da época atual?
05 – O que poderia ser feito para quebrar a
indiferença existente?
06 – De que modo somos treinados para a
indiferença?
07 – Aprecie a afirmação: "A juventude sempre foi rebelde e
revolucionária."
A frase é verdadeira ou uma fantasiosa? Justifique.
A frase é verdadeira ou uma fantasiosa? Justifique.
08 – Em sua opinião, a situação de
indiferença é preocupante? Justifique.
Boa iniciativa professor ! só uma perguntinha , essas atividades são para entregar ? xD kkk..
ResponderExcluirSim Danyllo! Eu pedi que fizessem a atividade em grupo e não deu tempo para terminar em algumas turmas. Caso do Mito de Prometeu e Pandora. Não sei a situação da tua turma. Nem sei se pedi para vocês fazerem. Pode ser que não tenha pedido ainda. Criei o blog para facilitar e vocês terem uma fonte permanente para se reportarem.
ResponderExcluirIrei postando os conteúdos que forem trabalhados. Ainda está faltando muitos. É que o blog é jovem! KKKKK Um abraço.