Os
resultados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher
mostram um aumento no número de mulheres que estão iniciando a vida sexual mais
cedo. O estudo, publicado em matéria do jornal O Globo, detectou que o
porcentual de jovens que têm a primeira relação sexual aos 15 anos saltou de
11% para 32%. O total de adolescentes com idade entre 15 a 19 anos que se
declararam virgens caiu de 67,2%, em 96, para 44,8% em 2006.
Para
estudiosos, a precocidade na vida sexual é um desafio a ser enfrentado pelo
governo. “É um número preocupante e que merece toda a nossa atenção”, disse o
ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
As
meninas estão também se tornando, cada vez mais, mães prematuras. O número de
grávidas de 15 anos quase dobrou nos últimos dez anos: saltou de 3% para 5,8%.
Segundo o estudo, 32% das mulheres de 15 a 19 anos mantiveram a primeira
relação sexual com 15 anos ou menos.
O
quadro, impressionante e preocupante, poderá levar, mais uma vez, aos
diagnósticos superficiais e, por isso, míopes: investir mais dinheiro público
em campanhas em favor do chamado “sexo seguro”. A camisinha será a panaceia
para conter a epidemia da gravidez precoce. Continuaremos todos, de costas para
a realidade. Sucumbiremos, outra vez, à síndrome do avestruz. Cuidaremos das consequências,
mas contornaremos suas verdadeiras causas: a hiper sexualização da sociedade e o
medo de educar.
O governador de São Paulo, José Serra, quando
ministro da Saúde do governo FHC, comprou uma briga com a apresentadora de TV
Xuxa Meneghel. Serra, então, foi curto e grosso ao analisar as principais
causas do crescimento da gravidez precoce: “É um absurdo acreditar que a
criança vá ter maturidade para ter um filho com essa idade. Pregar a
abstinência sexual de meninas de 11 a 14 anos não significa ser careta, mas
responsável.” O ex-ministro responsabilizou a programação das TVs, considerando
absurdas as cenas de sexo. “Já morei em dez países e em nenhum deles vi tanta
exploração de sexo”, enfatizou Serra. A preocupação do então ministro, cuja
trajetória pessoal e política não combina com histerias conservadoras, era
compreensível e lógica. Apoiava-se, afinal, no bom senso e na força dos fatos.
De lá para cá, como mostra a mais recente pesquisa demográfica, as coisas não
melhoraram. Pioraram. E muito.
A
culpa, no entanto, não é só da TV, que frequentemente apresenta bons programas.
É de todos nós - governantes formadores de opinião e pais de família -, que,
num exercício de anticidadania, aceitamos que o País seja definido mundo afora
como o paraíso do sexo fácil, barato, descartável. É triste, para não dizer
trágico, ver o Brasil ser citado como um oásis excitante para os turistas que
querem satisfazer suas taras e fantasias sexuais com crianças e adolescentes.
Reportagens denunciando redes de prostituição infantil, algumas promovidas com
o conhecimento ou até mesmo com a participação de autoridades públicas, crescem
à sombra da impunidade.
O
governo, acuado com o crescimento da gravidez precoce e com o crescente descaso
dos usuários da camisinha, pretende investir pesadamente nas campanhas em
defesa do preservativo. A estratégia não funciona. Afinal, milhões de reais já
foram gastos num inglório combate aos efeitos. O resultado está gritando na
pesquisa mencionada neste artigo. A raiz do problema, independentemente da
irritação que eu possa despertar em certas falanges politicamente corretas,
está na onda de baixaria e vulgaridade que tomou conta do ambiente nacional.
Hoje, diariamente, na televisão, nos outdoors, nas mensagens publicitárias, o
sexo foi guindado à condição de produto de primeira necessidade.
Atualmente,
graças ao impacto da TV, qualquer criança sabe mais sobre sexo, violência e
aberrações do que qualquer adulto de um passado não tão remoto. Não é preciso
ser psicólogo para que se possam prever as distorções afetivas, psíquicas e
emocionais dessa perversa iniciação precoce. Com o apoio das próprias mães,
fascinadas com a perspectiva de um bom cachê, inúmeras crianças estão sendo
prematuramente condenadas a uma vida “adulta” e sórdida. Promovidas a modelos,
e privadas da infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo e
falando como adultos. A inocência infantil está sendo assassinada. Por isso, a
multiplicação de descobertas de redes de pedofilia não deve surpreender
ninguém. Trata-se, na verdade, das consequências criminosas da escalada de
erotização infantil promovida por alguns setores do negócio do entretenimento.
As
campanhas de prevenção da aids e da gravidez precoce batem de frente com
novelas e programas de auditório que fazem da exaltação do sexo bizarro uma
alavanca de audiência. A iniciação sexual precoce, o abuso sexual e a
prostituição infantil são, de fato, o resultado da cultura da promiscuidade que
está aí. Sem nenhum moralismo, creio que chegou a hora de dar nome aos bois, de
repensar o setor de entretenimento e de investir em programação de qualidade.
O
custo social da gravidez precoce é brutal. Repercute direto na fatura da saúde
pública, despedaça a juventude, compromete a educação e desestrutura a família.
A solução não está no marketing dos preservativos, mas num compromisso sério
com a família e a educação.
O
resgate da juventude passa pelas políticas públicas de recuperação da família e
de investimentos na educação integral. Família sadia e boa educação são, em
todo o mundo, a melhor receita para uma sociedade amadurecida. Trata-se de uma
responsabilidade que deve ser exigida e cobrada pela sociedade e pelos
eleitores.
O ESTADO DE SÃO PAULO-SP - 14 de
julho de 2008 - Carlos Alberto Di Franco - (www.masteremjornalismo.org.br).
Atividades
01 – Elaborar um quadro comparativo do
crescimento da gravidez e o aumento da precocidade nas relações sexuais no
Brasil nos últimos anos.
02 – Qual é atitude do governo diante do
quadro alarmante da situação? Explique.
03– Por que aumentar a propaganda de uso de
camisinha não vai resolver o problema?
04 – Quais são as causas da gravidez na
adolescência para o autor do artigo? Explique.
05 – Qual foi a posição do Governador de São
Paulo, José Serra, sobre a gravidez na adolescência?
06 – Qual é a imagem do Brasil no exterior
em relação ao sexo?
07 – Qual é a parcela de culpa da TV em
relação ao aumento da irresponsabilidade sexual? Explique.
08 – O que significa erotização infantil?
09 – Como resolver o problema da erotização
da sociedade, conforme o autor?
10 – Quais são as consequências de uma
gravidez precoce para a sociedade e para as adolescentes?
Nenhum comentário:
Postar um comentário